Na idade em que estou, meus nervos mortos e em pânico
a cada segundo, eterno segundo do meio-dia, o vento alegre
se dissipa na desesperança sonora e crescente que sinto,
ai, meu coração de poeta não bate tão forte quanto deveria,
meu olhar vazio por estar de ressaca com a luz e os outros
transpassa a solidão que enfrento quando me emaranho nas multidões.
Na idade em que estou, rapazes vão ao bar, eu vou ao café,
beber daquele líquido doentio e viciante, que, segundo dizem,
me impediria de sentir cansaço, me daria ânimo pleno. Mas nem isso
nem aquilo. Sou matéria em busca de paz, em busca de silêncio,
em busca de nada buscar, em busca de ócio e escuridão.
Na idade em que estou, com a necessidade absurda e desesperada
de estar só, de estar num canto onde nem o diabo me acharia,
não sei o que será do amanhã. O hoje não para, não respira.
A noite, que serviria para o descanso, serve ao ato da escrita
ou simplesmente ao ato da insônia. Algo me tira o sono, coisas,
pensamentos vagos e tão completos. A dor que verso, e não converso.
Na idade em que estou, roupas, presentes, compras, eletrônicos,
são tão escusáveis! São tão inoportunos! Quero apenas decair
no voo absoluto em pleno chão. Raso, quero entrar no poço e me deixar estar.
Quero o pouco querer, nunca tive desejo de ser Alguém.
Posso me bastar? Sim, se posso. E devo.
Na idade em que estou, agradeceria receber um abraço, um beijo,
de uma mulher que não se importe com contratos sociais, que queira
sentir ao invés de fingir. Que queira verdadeiramente não existir no mundo,
que ame o aconchego dos braços e das palavras, que não conheça o termo pecado,
que saiba amar e compreender. Na idade em que estou,
os adultos parecem adultos e sérios demais. Os jovens, jovens e tolos demais.
E as crianças, espertas e cibernéticas demais.
Minhas palavras perdem, não sei se feliz ou infelizmente, um pouco do encanto,
perdem a delicadeza, mas ganham em paciência e dedicação.
Não quero tanto escrever poesias volumosas e ricas em conteúdo, em arte, em rimas, quero apenas escrever o que sinto.
Chega de obra-prima, se é que essa um dia existiu.
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