30 de setembro de 2015

Não inventem beleza onde existe apenas dor, ou, tributo ao bashô catarinense.

E quando o escritor morrer
será consagrado, nome por todos
os periódicos e sanguinários televisores,
dirão da saudade e dos amores
que viveu, das paixões escritas,
por fim ele sairá nas revistas:
"O poeta deixou uma obra-prima
inédita, nunca, nunca lida".

E lembrarei a todos os que chorarem:
"O poeta viveu sua breve vida
e riam todos da sua rima".

E quando o escritor morrer
a solidão e a dor que sentiu
serão motivos para os críticos
elogiarem o que antes não se viu:
"seus contos são mais que míticos,
a morte trouxe um novo ícone".
Mas falarei a todos que concordarem:
"o escritor tinha raiva, era ciclone,
fazia tempestade em suas prosas,
agora vocês procuram rosas
n'onde somente há medos e espinhos,
vão, vão! sigam seus falsos caminhos,
o poeta quer apenar morrer em paz
coisa que em vida não conseguiu
jamais.

29 de setembro de 2015

Quando o poema é a isca.

O peixe morde a isca
o sapo ignora e coaxa
o leitor nem pisca.
Do poema o que acha?

O peixe já está morto
o sapo ainda coaxando,
o leitor já olho torto.
Do que o poema está falando? 

O peixe então assado
o sapo foi embora
o leitor já bem cansado.
Do que diz agora?

O peixe no banquete
o sapo feliz voltou
o leitor que me rejeite.
Do que falando estou?

O peixe no prato
o sapo ignora e coaxa
o leitor cansou, de fato.
O poema não encaixa.

O peixe então no garfo
o sapo fazendo o mesmo
do leitor não me safo.
Nem do poema a esmo.

O peixe, ai, na boca
o sapo está atento
o leitor, de poesia troca,
do poema e do seu fim
e sentido me ausento:
eis que deixo tudo assim

o sapo o leitor, ao vento.

28 de setembro de 2015

A-deus, ou, O céu que não comungo.

Já não conheço a ideia de deus
tampouco me deixo importar com isso
se existe, é contudo deus omisso
se não, os problemas não são meus.

Já não me deixo levar pela fé ou crença,
tampouco discuto com testemunhas cegas
que se dizem curadas de irreal doença.

Já não, esqueçam-me, vou para Vegas,
conhecer os deuses dos jogos de azar
quem sabe até para eles orar. (?)

Já não aceito a ideia de pecado,
no final os pecadores se tornam santos,
não, não conheço o certo e o errado,
vejo padres pedófilos por todos os cantos.

Já não vale nada o jogo católico
de criar livros sacros e paraíso
desprezo com irônico sorriso
todo e qualquer ideal apostólico.

Já não existe o mito no meu pensamento
pastores são atores querendo dinheiro
enganam a si e ao mundo inteiro
com um termo -deus- que não passa de vento.
(Acredite, eles se enganam e fingem se importar com a religião quando na verdade querem lucro, como qualquer empresa).

Já não, não e não me interessa
a prece que perece na pressa
o deus sádico do religioso
tosco, demoníaco e impiedoso.

Já não (me) escondo meu ateísmo
seria hostil da minha parte o cinismo,
não, de fato no seu deus não creio,
afirmo sem medo, sem rodeio.

Já não me privo do prazer
nem do bem que isso me trás,
agora faço por fazer
aquilo que me dá vida e paz.

Já não existe nenhum deus
e se existir, não me importo,
mas continue nos dogmas seus
faça o bem, leve a paz, seja devoto.

Doe, pague o dízimo,
 para a igreja,
que ridículo, veja,
isso é o mínimo.
E deus ficará feliz
com seus dez por cento
em baixo do teu nariz
o pároco ri, alegre
com o faturamento.

Não tenho nada com isso
acredite no que bem entender
ou no que não bem entende.

27 de setembro de 2015

Sumiu o título, ou, elogios sarcásticos sobre nossos carnavais e fantasias.

Poesia:

Mais-valia
eu ficar em casa
criando poesia
sem ser explorado,
olho para o lado
o sonho cria asa
vai embora.

Mais-valia
e quanto "plus"
me pregavam
lá na cruz,
me venderam
mas
não me leram.

A mais-valia
do meu poema
é o problema,
minha utopia.
Não pago para ver
nem pavê nem crer;
sou cético
porte físico
nada atlético
nem rico:
não dou um real
menos ainda cinco
para ver o festival
do pão e circo.

Mais-valia
e continua valendo:
4 reais o dólar
(e o doleiro soltando o verbo)
vai vendo!

Haicais:


Na pia
não tem água:
progresso é utopia.

Uma bolsa-
uma família
amarela Brasília.

A prefeita perfeita
feita de maquiagem
da cidade miragem.

O tucano
passa seco e tranquilo
ao passar outro ano.

25 de setembro de 2015

Haicai, com frescura

A única cura
é privar-se
daquela frescura,

viver normal
toda informal
forma de loucura.


24 de setembro de 2015

Prosando silêncio

Silêncio que tanto me custa
calar-me para ser escutado
se de tal maneira assustado
dou-me conta, o som frustra.

E se quieto já tanto grito
sinal de que pouco me sinto
em verso de boca não minha.

Poesia só; comigo caminha
ruas e labirintos
estreitos e infinitos
como os ritos que vivemos.

Silêncio tanto custa, leve
mas pesado e breve,
nos segundos intermináveis
tomados duma só vez, talvez.

23 de setembro de 2015

Rabiscos

Enquanto nem prosa nem verso
meu silêncio diverso contenho
em rima prensada no universo
em rosa que no risco resenho.

Poesia inanimada,
pela caligrafia mimada
rabisca, rabisca e rabisca
mas fato é que só fica
rabiscando nada de nada.

Coisas que pouco se nota.
Verso que é bom
verso que é dom
sozinho sozinho se solta.

22 de setembro de 2015

Nota de rodapé...

No mínimo duzentas postagens para publicar e uma preguiça imensa! Esse um problema de quem escreve e publica em algum lugar: não dá conta de digitar tudo. Quando começa a digitar algo, logo pensa em outras coisas para escrever. Bah...
Ou não, vai ver é só comigo.

Do que me livro?

Livro aberto de capa escondida
é, dizem para não julgá-lo assim.
Livro que só a capa é lida,
livro que não (se) exige um fim.

Livro-me de um livro qualquer
que só distante há desejo de ler
que livro vivo me quer?
que livro morto quer viver?

Livro-me-esqueci de mencionar
que livro muito livro de tentar me ler, ou
de tentar ser lido pelo avesso que sou.

Livro de resumir toda a vida
Livro de toda forma e até sem forma
Livro que quanto mais calado mais informa
Livro que não nos deixa saída
Ler até o fim ou inventá-lo:
os dois são tão incisivos
que os livros não se resumem em serem livros
nem lidos
são seres, por vezes, mais humanos que os humanos.

E ao passar dos anos não envelhecem, tomam do poço a vida.

Do que me livro? Do livro não.

21 de setembro de 2015

O privilégio da falta de privilégio

A máquina parecia desafiar a concentração
o homem arrancava-lhe folhas e folhas
escritas que não agradavam, sabe-se lá por que,
colérico, nada mais escreveu
tamanha a raiva que sentia, homem desafiado
por uma máquina. Oras...

Com efeito, é justo que se proclame
muitos poetas morrem em si, levando
o desentendido poema para o perigeu da alma
onde perece por medo de ser dito
ou, por falta de vontade. Oras...

Teria em vida o poema a necessidade de satisfazer egos?
não se entende que a literatura não nos leva a fama
mas unicamente ao epicentro da dor? (a verdadeira literatura).
Sim, os poetas são todos masoquistas, com todas as letras.
Sofrem a angustia da rima, o fardo do código e do símbolo,
o trama da métrica, o peso da liberdade e da escravidão.
E nada querem em troca? Nada. Nem um só rublo,
nem um só centavo, nem um só copegue, mas talvez um conhaque?

E dos que escrevem almejando o luxo, privilégios,
em verdade, que escrevem? Aos berros
cospem palavras que os leitores amarão ler!
Em prol da fama. Esses, mercenários-eruditos,
corrompem-se.

Não que não se possa vender versos,
com razão se deve.
Mas não vender-se, escrevendo um outro alguém,

A isso o nome:
Tragédia.

20 de setembro de 2015

Di-versos desconexos

No seu
céu,
serei sempre réu?

E-N-T-R-E
linhas:
suas ou minhas?

Lua cheia
crescente de tédio
vejo só prédio.

Só um louco
conhece os perigos
da sanidade mental.

O silêncio
sempre sempre
diz mais.
 

19 de setembro de 2015

Oh, querer

Queria que nada fosse
e que tudo se danasse
que sempre fosse quase
e traço fosse crase.

Obra fraca, refrão de bolero,
que ninguém nota, que ninguém
se importa e nem.

Queria tudo simples
fosse tudo palavra
quando dissesse
pronto estava.

Até talvez, invisível.

Queria menos, crível.

18 de setembro de 2015

Dosagem

Por pura contradição
sou contra a adição
de açucar no meu café.

Gosto da vida amarga
do modo que ela é.

Que coisa irritante:
açucar ou adoçante?

Gosta da vida amarrrrga.

Por pura contradição
sou contra a adição
de açucar na verdade.

Vê se dosa direito
sem falsear a realidade.

A vida não do seu jeito
o desjejum do operário
é café que arde o peito
de olho no horário.

Por pura adição
sou pura contradição
se quem manda é a mente
escutarei o coração.
Sou um tanto negligente:
Só dou ouvido a emoção,
e olvido tudo.

17 de setembro de 2015

Gaita, o sopro

Gaita.
O frio da alma,
música de fundo.

Alguma coisa oriental,
o incenso de madeira queima.
Lá fora um novo fim do mundo.

Mas não me importa qual.

16 de setembro de 2015

As mentiras da Arte II

Cada rima
combinação
mentira-prima
da ficção:

a realidade mista à mentira
o amor complexado à ira.

O público delira!!!

até hoje a verdade
se baseou na mentira,
ídolos diversos versos
imersos em oceanos do ego.

Se alguém disser que é falso
testemunho,
em cada rima, nego.

15 de setembro de 2015

As mentiras da Arte I

Boçal que suspira
dizendo que a arte
não mente,

não há mentira
no estandarte
de cada lente,

a gente sente
o sentir não é preciso
nada além disso (?)

Não existe verdade plena
nem mito completo
é de dar até pena
em quem fixa o certo.

O mundo em si se constrói
mas logo, em si, se corrói.

14 de setembro de 2015

Há, sempre haverá.

Há quem veja o céu
sobre as mesmas estrelas
há quem veja as estrelas
sobre o mesmo céu,
há quem não queira vê-las
há quem mire ao léu.
Há quem acenda velas
e há quem apague a luz,
quem se debruce nas janelas
e ao ócio faça jus.

Há. Sempre um romance
para ser escrito torto
sempre um novo transe
no infinito solto.


o horizonte eterno
da margem do caderno.

13 de setembro de 2015

Amar-elo

Entre tantos rostos
a secura da natureza
faz surgir os desgostos
ressaltando a beleza
da dúvida e do medo.

Não se esconde em segredo:
todos sabemos a dor
o cheiro do embriagado,
a pinga e o rancor
faz esquecer e recordar
o amor que estava ao lado.

Quando a paixão acaba
não se acaba só,
ela estrangula, dá um nó,
deixa-nos louco, fora do eixo,
natural que em completo desleixo
que dali até outro amor
ou até não mais.

Quando se rompe o elo
nem um Sol
queda ainda amarelo.

Entre tantos rostos
alegres e soltos
tristes e presos
indiferente:
os que já amaram
não sairão ilesos.

12 de setembro de 2015

Haicai na mira

Mirando de soslaio
balança que balança
caindo no balaio,

mirando de viés
fala, no entanto,
beijará os pés,

mirando bem direto
baterá mole cara
no duro concreto,

mire profundamente
mas não se ire
com toda essa gente,

veja além:
ao dizer de
saiba dizer quem.

11 de setembro de 2015

Acento-péia que perdeu até o acento...

Penso e repenso
                                    fico tenso
denso de medo
                                  da ideia,

Será verdade
                              não ter
cem pés
                                                              a centopeia?

10 de setembro de 2015

Prosélito

Nunca serei
prosélito.
Se quer esse
préstito,
aceite as coisas
como são,
não venha
com prosa
com crença
com sermão.

Minha fé
é minha,
de mais ninguém.
A falta dela, ainda mais.

Dualidade que se una

Ver
o que ninguém viu
sentir
o valor do vazio.

Saber
o que não se sabe
por
onde já não cabe.

As nuvens transam
imagens no céu
as abelhas zanzam
um novo mel.

Desejo
não desejar
todo livro
que vejo.

9 de setembro de 2015

De-lírio

Fujo dos teus olhos
mas quero encontrá-los
afogo meus pensamentos
em desejos e regalos.

Algo de entrega sem afeto
misto de abstrato e concreto
ato de poesia, sem rima,
rabisco apressado: obra-prima.

8 de setembro de 2015

Uma valsa para uma dama

Não é tua roupa que olho
não é tua maquiagem que observo
não é teu sapato que me atrai
menos ainda tua vestimenta e teus apetrechos,
não, não são as unhas pintadas nem o liso cabelo
que de fato é crespo.
Quedo parado mirando tudo isso, é claro
mas não me importa tanto assim.

Não é, por definitivo, tua delicadeza
ou tua brutalidade, tua voz ou teu
perfume de primavera que o homem destruiu.
Menos ainda teus dizeres de amor ou teu riso
tua pele, teus planos para o amanhã, teus
ideais e ideias demais.

Não é na tua roupa que olho, não.
É teu silêncio que escuto vagarosamente
teu pensamento que subtraio da tua tensão
e tesão.

É teu rosto cru, sem outra pele por cima
é no teu pé de bailarina, de lua crescente.
É na tua pouca nudez. Para ser franco, vaga.
É nos espaços vazios e desorganizados que me prendo.
É na tua mão, no teu cabelo embaraçado e ainda molhado.
É, por definitivo, no momento, nos planos que não dão tempo de serem planos.
É nos teus sentimentos avassaladores.
É na tua impaciência e explosão.
É no teu pouco silêncio e do silêncio a tua atenção.

Amo e desejo essas coisas, que vão além de coisas
que vão além da força das palavras,
amo teu jeito desconcertado frente as diferenças,
amo teu jeito desconcertado frente a frente, no beijo.

O amor sem o ódio é falso. Se ama mais quando, do mesmo tanto, se quer fugir.
Fugir da insanidade dos outros.
Fugir das loucuras dessa maldita normalidade.
Fugir da fuga, ir de encontro ao instante.

É nisso que paira minha reta,
nas tuas curvas, na tua carne
no teu espírito de mulher que quer
tudo, e quer, lá no fundo, se entregar
aos desejos e prazeres que evita.

7 de setembro de 2015

A teia da aranha

Na teia da aranha
sofre o mosquito
com qualquer esperança.

Todo se arranha
mas já estava escrito
na vida se dança.

Ela vem e devora
na teia da aranha
o medo te cora.

Teias por todas as partes
vangloriam-se os homens
por suas obras e artes,
a vida é como a aranha
ela não, faz por manha
faz por que quer fazer.

6 de setembro de 2015

Meu personagem e suas indefinições

Escrevo poesias
pois sou um mercenário
sou um idiota
sou ridículo e otário,
o que me importa
se vivo que nem
uma porta,
um zé ninguém?

Escrevo poesias
e isso é tudo
meu todo
meu mudo mundo
as flores macias
da primavera
febril,
da noite que não vem
do dia que não vai
tudo isso, tudo sem
contar o haicai,

Escrevo poesias
as luas escuras
que iluminam o céu,
não quero curas
quero brincar
nesse mero carrossel,
escutar quem pouco fala
falar para quem pouco escuta
dizer o que me entela
dizer o que quase me surta,
sou o que escrevo
não o que me atrevo
a sentir e não-sentir.

Escrevo poesias
e a dor é ainda maior
e a vida é estranha
acaba tão rápido
e são tantas as tosquices
as esquisitices.
Me sinto pálido
me sinto ávido
por vida, por desejar-te
por desej-arte.

Escrevo poesias
personagens e alteregos
coisas que tanto faz
coisa que trazem paz
ao menos para quem quer.

Escrevo poesias
é essa a vida
que quero
refrão de bolero
simples
chimarrão e café.

Escrevo poesias
e ainda não conheço bem o silêncio
e ainda não conheço bem as palavras,
e ainda não me conheço bem
e ainda não, e talvez nunca mesmo.
Sei que acaba, sei que não quero viver o mesmo
sentir o mesmo
saber o mesmo
ver o mesmo
ser o mesmo
esperar o mesmo
entregar-me ao mesmo
cantarolar o mesmo
rir do mesmo
sempre mais do mesmo.

Escrevo poesias
e elas me escrevem,
tenho as mãos frias
pois para isso servem.

Escrevo haicai
enquanto
a chuva cai (ou vai).

5 de setembro de 2015

Jornais e medos

Jornais impressos circulam pela cidade
uma notícia urgente a cada momento
um momento a cada notícia urgente
nenhuma diferença, tudo de momento.

O café está posto, pronto para ser devorado
ainda quente pelas almas apressadas,
o ônibus está para passar, passou
e o cidadão pragueja com o condutor
com o café, com os deuses, que riem, riem,


procura-se emprego, procura-se doméstica,
procura-se o que não se procura mais,
não se contrata, estamos em crise,
crise de identidade, crise de bode expiatório,
crise salarial e humana, crise de crase
crise do quase, do grave, do agrave, síncrise
diácrise da crise, crise até na psicanálise.

Epícrise.
Reprise
da crise.

A cidade não para, a cidade faz do ontem o hoje
e do hoje o amanhã, que será sempre.
Que será sempre e que não será nada além de sonho.
Utopia do depois. O tempo é fetiche.

Tudo é urgente, urgente até apertando (-lhe) o pescoço
urgente tanto quando (não sei) inimaginável, ridículo.

Um novo dia.

Jornais impressos circulam pela cidade
folhas insignificantes que significam demais
esse nada indemonstrável, impalpável.

Crise
urgente, notícia.
a verdade
é só mais uma
mentira propícia.

4 de setembro de 2015

Tudo o quanto deseja ser VI

poesia clandestina
presa no desejo
no olhar da menina,

poesia no olho
poesia na face
a rima de molho
completo disfarce,

poeta pensando
poesia sem pressa
virá quando?

Será que interessa?

3 de setembro de 2015

Tudo o quanto deseja ser V

Poesia metamorfose
que o verbo cale
ou o verbo prose.

Poesia já metamorfoseada
quando doma o todo
quando dança no nada.

Poesia eco eco
eco tão surdo
que quase perco,
é de dar um treco
como borracho
que para sem macho
tem que entornar o caneco.

2 de setembro de 2015

Tudo o quanto deseja ser IV

Poesia presa na cabeça
é coisa que poeta algum
de forma alguma esqueça.

Poesia na mente
é obra que deixa-nos
profundo e ausente.

Poesia no caderno
rabisca que rabisca
encontrando o inferno.

Poesia não concebida
sem dádiva ou dúvida
é coisa mais linda.

Poesia, poesia
há de haver
pedra macia?

tanto bate até que fura
só assim a desejada cura.

1 de setembro de 2015

Tudo o quanto deseja ser III

Poesia musa celeste
da nudez que seu
corpo se reveste;
queria que alguém visse
tamanha normalidade
na simples esquisitice.

Oh poesia na gaveta
quem em ato te cria
merece viver na sarjeta?

Oh humano não ria,
se morrem os poetas
morre todo erotismo, amor.

Poesia celeste musa
que insano completo
logo a ti acusa
de transformar nuvem
em tijolo e concreto?