6 de setembro de 2015

Meu personagem e suas indefinições

Escrevo poesias
pois sou um mercenário
sou um idiota
sou ridículo e otário,
o que me importa
se vivo que nem
uma porta,
um zé ninguém?

Escrevo poesias
e isso é tudo
meu todo
meu mudo mundo
as flores macias
da primavera
febril,
da noite que não vem
do dia que não vai
tudo isso, tudo sem
contar o haicai,

Escrevo poesias
as luas escuras
que iluminam o céu,
não quero curas
quero brincar
nesse mero carrossel,
escutar quem pouco fala
falar para quem pouco escuta
dizer o que me entela
dizer o que quase me surta,
sou o que escrevo
não o que me atrevo
a sentir e não-sentir.

Escrevo poesias
e a dor é ainda maior
e a vida é estranha
acaba tão rápido
e são tantas as tosquices
as esquisitices.
Me sinto pálido
me sinto ávido
por vida, por desejar-te
por desej-arte.

Escrevo poesias
personagens e alteregos
coisas que tanto faz
coisa que trazem paz
ao menos para quem quer.

Escrevo poesias
é essa a vida
que quero
refrão de bolero
simples
chimarrão e café.

Escrevo poesias
e ainda não conheço bem o silêncio
e ainda não conheço bem as palavras,
e ainda não me conheço bem
e ainda não, e talvez nunca mesmo.
Sei que acaba, sei que não quero viver o mesmo
sentir o mesmo
saber o mesmo
ver o mesmo
ser o mesmo
esperar o mesmo
entregar-me ao mesmo
cantarolar o mesmo
rir do mesmo
sempre mais do mesmo.

Escrevo poesias
e elas me escrevem,
tenho as mãos frias
pois para isso servem.

Escrevo haicai
enquanto
a chuva cai (ou vai).

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