21 de setembro de 2015

O privilégio da falta de privilégio

A máquina parecia desafiar a concentração
o homem arrancava-lhe folhas e folhas
escritas que não agradavam, sabe-se lá por que,
colérico, nada mais escreveu
tamanha a raiva que sentia, homem desafiado
por uma máquina. Oras...

Com efeito, é justo que se proclame
muitos poetas morrem em si, levando
o desentendido poema para o perigeu da alma
onde perece por medo de ser dito
ou, por falta de vontade. Oras...

Teria em vida o poema a necessidade de satisfazer egos?
não se entende que a literatura não nos leva a fama
mas unicamente ao epicentro da dor? (a verdadeira literatura).
Sim, os poetas são todos masoquistas, com todas as letras.
Sofrem a angustia da rima, o fardo do código e do símbolo,
o trama da métrica, o peso da liberdade e da escravidão.
E nada querem em troca? Nada. Nem um só rublo,
nem um só centavo, nem um só copegue, mas talvez um conhaque?

E dos que escrevem almejando o luxo, privilégios,
em verdade, que escrevem? Aos berros
cospem palavras que os leitores amarão ler!
Em prol da fama. Esses, mercenários-eruditos,
corrompem-se.

Não que não se possa vender versos,
com razão se deve.
Mas não vender-se, escrevendo um outro alguém,

A isso o nome:
Tragédia.

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