29 de fevereiro de 2016

Lua

Nau à deriva, amo a Lua cheia
me minguo por completo
nessa nova onda crescente do amor.

O consistente surge tão vago
prédios são feitos de solidão
e o abstrato, aí, rocha oceânica.

A Lua, mulher e deusa, se esconde
pois o belo e a infância riscam
o que por aí chamam de inconsciente.

Vida, que tanto escrita, pouco pensada
nas medianas do tempo, moderno tempo,
deriva e delira. A Lua é miragem.

Não, a Lua é a margem, poema
duma segunda-feira blues feito na praça
por um desgraçado. Feliz e desgraçado.

Amo a Lua cheia-nova-crescente-minguante
ainda que ela esteja distante.
Nau à deriva. Tu és pássaro vibrante.

(Se existe vida após a morte, deve ser na Lua,
só os lunáticos merecem paz, merecem
controlar a maré da alma. Faz frio,
e a Lua dorme na rua, sem coberta ou café.
Tudo é como é?)

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