29 de fevereiro de 2016

Lua

Nau à deriva, amo a Lua cheia
me minguo por completo
nessa nova onda crescente do amor.

O consistente surge tão vago
prédios são feitos de solidão
e o abstrato, aí, rocha oceânica.

A Lua, mulher e deusa, se esconde
pois o belo e a infância riscam
o que por aí chamam de inconsciente.

Vida, que tanto escrita, pouco pensada
nas medianas do tempo, moderno tempo,
deriva e delira. A Lua é miragem.

Não, a Lua é a margem, poema
duma segunda-feira blues feito na praça
por um desgraçado. Feliz e desgraçado.

Amo a Lua cheia-nova-crescente-minguante
ainda que ela esteja distante.
Nau à deriva. Tu és pássaro vibrante.

(Se existe vida após a morte, deve ser na Lua,
só os lunáticos merecem paz, merecem
controlar a maré da alma. Faz frio,
e a Lua dorme na rua, sem coberta ou café.
Tudo é como é?)

28 de fevereiro de 2016

Folhas, rascunhos.

Folha

da árvore
ou do caderno
rascunho
torto e completo
escrito a próprio punho
meu inferno
meu deserto.

Margem
escrevendo o marginal
nessa nau mar - (gem/tírio)

Seguindo
para onde o vento leva:
Vulcano
Afrodite
Minerva?
tudo que existe
tudo tão insano
nada passa de folha.
Olha! Falo sério,

tudo que há é mistério
vida que nasce no cemitério,
mas não é mesmo segredo,
ledo
engano, nada passa de folha, folha
para poetas e formigas.
E para o homem: Escolha.
 
 

27 de fevereiro de 2016

Descostura a qualquer custo a cultura:

Somos refém
da ré, da fé, do além,
do nosso pensamento medíocre
que crê
piamente nos delírios da mente.

Nossa cultura
é extraordinária,
a arquitetura
da alma brasileira não samba coisa contrária.

O jeito brasileiro é elo
entre o samba, o prazer e o desenvolvimento
da pobreza:
aqui posso ir no shopping de chinelo.

Nossa cultura
Caetano diz
é beleza pura
amor embebido de loucura
tesão até o nariz.

Somos refém
da ideia canalha
de que não somos ninguém;
dizem que tudo é mais belo no estrangeiro
danem-se! Temos Almir, Leminski e Baleiro,

E os maiores filósofos do mundo: Olavo e Paulo Coelho.
E somos também o país do sarcasmo e do poeta que diz
querendo dizer o contrário.

25 de fevereiro de 2016

Fuga

Fuja. Cometa o tão desejado suicídio social,
o drama não tem espaço nesse ninho de humanos
as dores são sempre soterradas por avalanches informativas
e na nossa tão conturbada mente, tudo está um caos.

Fuja. A fuga também pode ser glória e heroísmo,
não tem nada de vergonhoso no cansaço
todos os homens cansam um dia, uma noite,
qualquer batalha não terá jamais sentido.

Fuja. Fuja dos dias de ordem e doutrina, regras
não confortam a alma, não acrescentam tesão ao amor,
regras são só palavras de ordem, imperativos sociais.

Fuja, e ao fugir, procure não se jogar no precipício,
pois o precipício já é o mundo em que vivemos,
fugir e saltar para os braços dele não fará nenhum sentido.

Mate ao seu outro eu, aquele eu mascarado, aquele eu dos outros,
mate-o. Fuja. Seja a poesia dos campos, poesia
do inferno e do céu. Não viva aquele novela, ou a ladainha
que os fieis cantarolam nas catedrais.

Fuja. Fuja. Fuja.
Observe como observa
a coruja
todo problema
todo poema
toda loucura
virando o pescoço
sem movimentos bruscos,
feliz por fugir sem se mexer.

24 de fevereiro de 2016

Variações

Vejo bem no teu olhar, tranquilo,
a sombra que transborda a borda
e a margem do rio Nilo.

Vejo bem no teu sorriso,
que não quer ficar presa
mas que também não é sobremesa
daquele ou daquilo.

Vejo bem e reconheço
que merece o amor
que merece o sabor
do que já não me esqueço.

Vejo bem no teu olhar, perigo,
que já não sente prazer, comigo,
e que eu fiquei de lado meu bem
não quer se prender a ninguém.

Vejo bem e não enxergo
no teu amanhã meu eu
vejo bem e não nego
que já deixei de ser teu.

Vejo bem e não te conheço
quando foi que mudaram os rostos?
quando foi que viramos os outros?
esse amor, desconheço.

(O poema, em real, é uma canção que escrevi para tocar com gaita e violão. Publicarei daqui um tempo em mídia audível)

23 de fevereiro de 2016

Carnificina sobre versos

Por fim o silêncio consumirá nossas vozes
a morte ceifará nossos desejos e liberdade
haverá lágrimas e sede, canibais atrozes
se lambuzarão com a nossa castidade,
as borboletas morrerão ou ficarão escuras
as damas abandonarão seus espelhos e frescuras
todos nós correremos, dispersos, janta
que cai na teia, tarde demais para se debater
de nada, nadinha de nada adianta
rezar. Vamos todos nesse belo dia morrer.

Por fim as crenças serão dispensáveis
as dores terão de vez sua cura,
os atores dessa novela eram amáveis
mas transbordarão medo e loucura!
 
Por fim as reclamações e angústias
terão um espaço por sobre o solo quente,
carros rasgarão ruas e vias
na velocidade duma estrela cadente.
De nada adiantará, retardará o sofrimento
a culpa que recai sobre Atlas
a regeneração do órgão de Hércules.

Por fim, morte. Finda a luz
os que sobrarem perderão a vergonha
caminharão tristes e nus,
e ai, ai de quem quando dorme sonha
com um mundo feliz.

Somos todos diabos travestidos
de Francisco de Assis.
 

22 de fevereiro de 2016

Teus lábios são, labirintos.

Teus lábios, movimento e labirinto,
contornaram meu cérebro, vorazes,
me transformam só em instinto,
vozes mentais multiplicam-se em milhares.

Não vejo solução, te desejo, te quero,
te ecoar, te fazer estrela e deusa,
estou beirando a loucura, reitero,
a tua mente demente mente, me usa.

Teu olhar, tua íris, tua pupila,
dilatada em reflexo carnal
transpassa e me destila
a vontade é também intelectual.

Quero. Querer é um perigo, idolatria
cega pelo amor e pelo tesão.
Erro. Errar é um detalhe, magia
feita de propósito pelo coração.

Quero teu beijo
quero tua gruta
quando te vejo
é fuga e luta.

Guria, elemento cósmico,
no ápice do meu alvedrio,
meu juízo pessoal, sumiu,
êxtase orgásmico.

Teus lábios, movimento e labirinto,
apesar de entender a dança
se disser que não te quero, minto
bato o pé, pareço criança,
olho no olho te fito:
prazer, teu sobrenome,
que da minha mente não some

(mulher
 
Afrodite em Gaia
será que se descoberto
o terceiro elemento da situação
desmaia?)


 

21 de fevereiro de 2016

Seca e biblioteca

Bem na biblioteca
lugar de todo amável
no centro da cidade.

Eu e aquela boneca
bela e tão adorável
fomos ver a "novidade".

Parti direto, na ofensiva,
nos cantinhos,
chegando colado ao seu pescoço.

Nenhuma alma viva
pelos caminhos,
e sempre fui um bom moço.

Aprenda rapaziada,
perto dos livros poucos se achegam
e sempre foi um canto de paz
sem câmeras, sem gente, bom para amassos.

Mas
não deu em nada
a morena escapou dos meus braços.

Fiquei então na literatura
pois a essa altura
desanimado e nervoso
pensei comigo:
essa guria é osso.

Morena, cheia de encanto
fazendo graça faz tanto...
e quando te levo pro canto
para meu espanto
foge, desvia, me abraça
corta do pássaro a asa
e ri, dizendo que não pode.
Eu tomei um sacode.
Infeliz que sou.

Querendo se fazer de santa
diz que não nasceu pra ser janta
e que é de compromisso:
nessas horas já sumi
nessas horas, omisso.

Não quero namoro não meu bem,
quero só divertimento.
Sou romântico, mas pro amor
ah, pro amor, falta talento
e antes, quero saber o sabor
da tua boca. Não se investe
sem conhecer.

20 de fevereiro de 2016

Alma de velho, jeito de criança III

Não vim ao mundo para ter
tampouco para ser alguém,
na verdade, quanto menos sou
mais me sinto e me conheço,
então, não vim para escrever
nem para ser escrito ou conhecido,
o anonimato me parece muito sadio,
e em quatro paredes (Céu, Terra, Lua e Mar)
a vida é mais gostosa.

Não vim ao mundo para entendê-lo
e se vim, agora desisto desse pensamento,
loucura seguirá incompreendida e crua.
Vim ao mundo para desentender
de tudo e de nada, para pular
amarelinha com canalhas e ladrões,
e apreender minha eterna alma de criança
aprendendo a ser infantil
com os adultos ao meu redor.

Não vim ao mundo por conta dos diplomas
nem por conta dos livros e metodologias,
a ciência é bela mas não é suficiente,
as páginas e os escritos maravilhosos
mas o ar puro das matas me atrai ainda mais.

Não vim ao mundo para deixá-lo passar.
Quando vier a morte, e ela chega sem avisos,
quero dizer para minha alma de velho
"alma de velho, jeito de criança"
e saber que saboreei os manjares e prazeres
tantos quantos quis.

18 de fevereiro de 2016

Alma de velho, jeito de criança II

A rua inteira veio ver
o que no céu acontecia,
o menino ficava olhando
para o alto, pensando alto,
sorrindo alto, vivendo alto.

A rua inteira veio ver
mas ninguém encontrou,
olhares mil, brilhando no escuro,
íris de gatos, todos curiosos
para saber o que o menino
olhava, do que o menino ria.

A rua inteira veio ver
a rua intera não viu nada.
O menino não vai crescer
viverá de palhaçada.

Ele olhava a escuridão
a Lua que se escondia,
procurava poesia
em meio ao frio da solidão.

Procurava rir de tudo
e não se preocupar com nada,
isso meio mundo
não entendia. A rua inteira queria poder ver
e entender aquele menino,
mas para isso precisariam deixar de ser adultos,
precisariam buscar paz e graça em
meio ao extremo vazio da noite,

poucos são capazes,
asas não foram feitas 
para humanos.

17 de fevereiro de 2016

Alma de velho, jeito de criança I

Dizer o que não se sabe
dançar o que não se dança
Sei que num verso cabe
meu jeito adulto-criança.

A pressa não terá vez
os carros terão que esperar
atravesso a rua no mês
ou quando a vontade chegar.

Sorrio, claro, bem pouco,
se gargalho é na solidão,
pareço até meio louco
andando nessa contramão.

Cardumes vão todos para a rede
e não estou afim de virar janta,
quero atravessar a parede
dormir no inferno, acordar em terra santa.

Ovelhas serão devoradas e cordeiros sacrificados
eu, que de bobo não tenho muito,
vou seguindo, na paz, meu intuito
de ficar só, sozinho, olhando para todos os lados.

Dizer o que não sei
dançar o que não se dança
em casa de rei
sou quase Sancho Pança.

14 de fevereiro de 2016

Pássaros suicidas IV

Mente explosiva, vulcão ativo
demônio que o homem quis como Deus,
servo da nossa ignorância, por sabermos demais
é que sabemos sempre de menos.

A mente é um pássaro suicida
louco para fugir das grades e se perder
na primeira santa esquina.
A mente é pólvora, é dinamite
pronta para jogar aos ventos a paz.

A mente é um pássaro-preto,
mas quando vai a caça, é águia,
seca e faminta, em busca do melhor.
A mente é um pássaro suicida
faz da liberdade os muros da prisão,
e da vida um jogo. Sem graça e egoísta.

A mente é um pássaro suicida,
tomada de ideias sensacionais
mas que gosta mesmo é de ver sangue
escorrendo por entre os dedos e medos.
A mente é um pássaro louco
rouco, que quer gritar, gritar,
beijando na madrugada o suicídio.

13 de fevereiro de 2016

Meu bem, melodia da maré...

Meu bem, cansei tanto de te ouvir,
mas a tua boca eu ainda beijaria,
meu bem, ai de mim, o que seria
da minha vida se eu não pudesse fugir?

Meu bem, até que você tem um corpinho sensual,
uma bela morena, aquele sorriso bonito,
meu bem, eu, sujeito todo esquisito,
não posso morrer na praia, nesse mar sem sal.

Meu bem, não nasci para ser de alguém,
menos ainda de uma mulher tão controlada,
meu bem, não é que você ainda não entendeu nada,
um homem que se preze não vive sem:
sexo, amor, café e liberdade.
E um gole de mentira. Eis a verdade.

Meu bem, digo, tire a roupa e vem pra cama,
mas, só de pensar nisso tu reclama.
Assim vai acabar sozinha, acabar sozinha,
acho melhor, meu bem, tu cair na minha,
e abrir mão de toda e qualquer santidade.

Meu bem, sou mesmo ateu e à toa,
porém foi Deus que me quis desse jeito,
se tu quiser, toco blues, o tempo voa,
vem que te devoro com extremo respeito.

Meu bem, morena tentadora, se me cobrasse menos
Meus sentimentos jamais sumiriam.
Quando entender que viver a vida não é pecado
meu bem, vai ser tarde para estar ao meu lado.

Meu bem, que minha já não é,
foi, foi embora com a maré,
e o mar me trouxe a solidão
doce e poética solidão.
 

12 de fevereiro de 2016

Pássaros suicidas III

Deserto da alma, que a madrugada embriaga com vinho,
e que se deixa levar pelas metáforas e frases de algo qualquer,
alma, pássaro suicida, nessa sina que nada ensina, sozinho
vai o espírito, nada santo, pelos arredores do que vier.

Deserto da alma, e as vezes, deserto também da carne pecaminosa,
pássaros suicidas pousam no meu suave e tenebroso pensamento.
Deserto da alma, a alma cansada, na noite, toda e toda ociosa,
nada quer, nada, apenas sentir na superfície a brisa do vento.

Deserto da alma. Alma, meu pássaro suicida,
desesperado por abrigo, modesto abrigo,
onde a vida possa de fato ser vivida
onde se possa ir, nesse deserto que sigo
as cegas.

Deserto da alma. Pássaros suicidas,
vidas que o dia despreza e a noite consome
em prosas e trovas, escárnio da poesia,
vida, deserto da alma, vida cheia e tão vazia.

Pássaros suicidas
frequentam as palavras
compostas na multidão.

11 de fevereiro de 2016

Pássaros suicidas II

Na minha janela
na porta de casa
nas ruas infestadas
de ideias medievais
trajadas de novidade:

"pássaros suicidas!"

No meu quintal
no céu noturno
principalmente
no céu diurno
e nas avenidas
que correm:

"pássaros suicidas!"

Na minha mente
principal
mente alheia
que mente
para outros
mais:

"pássaros suicidas!"

Nos reflexos, nos espelhos
obscuros
no lago e na televisão,
no silêncio do banheiro
no mundo inteiro
e em lugar algum:

"pássaros suicidas!"

Nas sombras
na luz
na cruz
nas sobras
e esmolas que a mão
direita viu doar:

pássaros suicidas
que saem da gaiola
em promessa de liberdade,
mas não toleram a força
do voo e do vento,
e buscam desesperadamente
conforto em outra
jaula.

pássaros suicidas
pássaros suicidas
pássaros suicidas

pássaros só são pássaros
quando querem voar
pássaros só serão pássaros
se as gaiolas sumirem
se as promessas evaporarem

pois quando se tem o mais belo céu
e se promete ao pássaro outro céu
mais belo ainda, ele acredita piamente
ser feio e intolerante o céu que se lhe apresenta.

pássaros suicidas
pássaros suicidas
pássaros suicidas
pássaros russos, mensageiros, suicidas,
pássaros americanos, suicidas, doentios,

(nós)





10 de fevereiro de 2016

Pássaros suicidas I

Pássaro, a ponte para o dia,
é o raro e a primavera.

Pássaro, escreve a poesia,
desenha o que se espera.

Pássaro, longe vai, voa,
para o sul. Para o norte.

Pássaro, o canto entoa,
à toa está a morte.

Pássaro, tome com o bico
minhoca ali da terra.

Pássaro, enquanto rabisco
no rabisco não se erra?

Pássaro, se a folha está em branco
nada me impede que eu faça.

Pássaro, se do caderno a arranco
perdido estou, desgraça.

Pássaro, para onde quer voar
toda gente desse formigueiro?

Pássaro, para onde tenha ar
e que sobre um bom dinheiro.

Pássaro, falando de verso em verso
percebo algo distinto.

Pássaro, meu sentimento inverso
faz do outro, vazio bonito.

Pássaro, rabiscos são só rabiscos,
não pode haver mistério.

Pássaro, em meio a tantos riscos
como alguém ainda me leva a sério?

Pássaro, o raro e a primavera
tocam harpa celestial
enquanto a chuva cai.

Pássaro, puro bolero
a vida ser o que espero.

Pássaro. Pássaro.
Em meio ao caos
te ter é raro.

Inferno celestial das ideias
chove haicai
e pássaros se suicidam.

9 de fevereiro de 2016

Música, maestro!

Puta música, "Matadouro 18", da banda Matanza, álbum Pior Cenário Possível! Para animar a noite, com café e banda brasileira de qualidade:



Muito espantariam os vizinhos da área
se um dia soubessem
Que nos fundos do matadouro 18 coisas assim acontecem
Chega a policia, investiga, não acha nada, nem desconfia
Que há gente trancada no piso de baixo a dias

Quantos mais vão cair?
Pelo poço do matadouro 18, da câmara fria impossível sair
Alguns são depois encontrados na margem do rio
Mas a maioria simplesmente sumiu

Os que já sabem, hoje vivem na sombra do medo
Jamais dirão qualquer coisa, eles guardarão em segredo
Mesmo com todas as mortes
teremos sempre um desavisado
Que resolve passar a noite acampado no lago

Quantos mais vão cair?
Pelo poço do matadouro 18, da câmara fria impossível sair
Existe um riacho lá perto que já foi bom pra pescar
Hoje a água é turva e lodosa, ninguém mais vai lá

Quantos mais vão cair?
Pelo poço do matadouro 18, da câmara fria impossível sair
A noite se ouve abafado o barulho do incinerador
E o cheiro que vem com a fumaça
revela uma noite de horror

Arena Romana

Direto do Blog do Marreta:
 
Contorce-se em mim
Cada cardíaca fibra
Sou campo de batalha entre vontade e razão
O peito implora que eu lhe olhe de frente
O cérebro, prudente, diz:
"-Não faça, não."

Dilata-se em mim
Cada esclerosada veia
Sou briga de navalha entre orgulho e emoção
Os olhos imploram que eu lhe faça festa
O cérebro, que sabe que você não presta, diz:
"-Não faça, não."

Eletrifica-se em mim
Cada desligado nervo
Sou arena romana de certeza e confusão
A boca implora que eu lhe acolha sorridente
O cérebro, intransigente, diz:
"Não faça, não."

Erupciona-se em mim
Cada célula extinta de minha epiderme
Sou zona de guerra entre lealdade e traição
Tudo em mim implora que eu me deite ao seu lado
O cérebro, que sabe dos seus pecados,
Num inflexível recado, diz:
"-Não faça, não."
 
 
( Para acesso: http://amarretadoazarao.blogspot.com.br )

Fogo na lenha

Não me venha com a chuva quando lhe pedir o Sol.
Não me venha com a poesia se a noite desabar sobre os ombros.
Não me venha com conversas e recados, gritos ou sussurros,
palavras de convencimento, somente para quebrar o gelo,
somente mentiras que não quero escutar e que não quer contar,
não, não me venha.

Não me venha com o café adocicado, doce veneno da língua.
Não me venha com sorrisos e detalhes, perguntando se estou bem.
Não me venha com artifícios felinos e femininos, armadilha
para pegar ratos que anseiam por um queijo. Não, não me venha.

Não me venha com o olhar leve, com a alma em paz,
com o brilho estrelado na palma da tu mão de chumbo,
não me venha com encantos, cantos de sereia traiçoeira,
não me venha com elogios, presentes ou surpresas.

Não, não me venha, não apareça se for somente por cortesia.
Prefiro ter a ideia presa do que a cabeça vazia,
essa eterna oficina do Diabo.
E eu, tonto, desprezo a santa ceia
digo para que não venha
por o fogo que falta para a lenha.

Não me venha se for para ir, se for só um momento.
Não me venha se a rima estiver completa
se a poesia já estiver escrita ou se as palavras estiverem sobre a mesa.
Venha se quiser, e se quiser, surpresa:
como diriam meus avós, beleza não põe mesa.
Mas beleza se põe sobre a mesa, para comer.

Mas por favor, não me venha
se não for passar a madrugada.

Então, não me venha
brincar de conto de fada
pois de prometer para o depois eu só prometo
o nada. 

7 de fevereiro de 2016

Observação!

Observar. E deixar que o vento leve
toda voz e toda confusão humana,
até que tudo ao todo se releve.
Me desafio a entender essa mente insana.

Observar. Que mais, eu, mero mortal, faria?
se ninguém me perguntou o que penso
e se perguntasse eu nada, nada de nada diria,
se de problema já me basta o meu, "imenso".

Observar. Primitismo da nossa essência,
e não importa o avanço da ciência
se ninguém sabe ao certo o que quer.

Observar. Meus olhos pedem descanso
bem como minha voz.
Baby, que fique só o nós,
e que o resto, sozinho, fique manso.

Observar.
 

Postagens

Aos leitores. Aos poucos leitores: tenho escrito muito nas últimas semanas, no entanto, constantemente diminue minha vontade de publicar algo no blog, principalmente por conta das atuais poesias estarem cheias de confusões internas.
O tempo, curto como sempre, também me falta.
Me arrisquei faz pouco a escrever contos, e, como não pode ser diferente, o escritor considera lixo todo o conteúdo declamado. Mas publicarei alguns nos próximos dias. Volto com mais dedicação no dia dez, com ideias fortes, e, como não pode ser diferente, perfeitamente ignoráveis.
Para hoje, uma poesia curta e simples, na próxima postagem.

Uma frase

O Carnaval é uma das poucas datas que jamais entenderei.

5 de fevereiro de 2016

Palavras. São só palavras.

Palavras. Momentos vazios de um ser qualquer,
relatados em um caderno qualquer, com uma caneta qualquer,
em um espaço-tempo bem definido, ou qualquer.
Escritas sem o menor motivo nas linhas terríveis da nossa mente,
escritas para ofender e desprezar todo o resto.

Palavras. Minutos ocos em suspensão no nosso pensamento,
nesse teto de vidro que é a nossa residência. Nesse inferno
verbal e confuso, onde até os mortos são reinventados,
onde nenhuma alma tem paz. Nem os budistas. Nem os bundistas.

Palavras. E minha mão trava na primeira frase, no primeiro verbo,
e eis que entro em estado de delírio, somente por estar escrevendo.

Jogo o caderno para o lado, olho ao redor, tudo é palavra,
até o silêncio. Maldito silêncio.
Tomo o caderno para meus braços, desprezo o olhar
do escuro que me encara.
Já não sei o que faço com o caderno. Alguns dias, palavras me faltam.
Mas me sobram poesias.

Nenhuma vontade de escrever. Vício eterno e desprezado.
Quem dá valor para versos tão insignificantes? Se até os poetas
reais, os poetas-blues, os poetas de alma, são menosprezados
pela sombra do tempo. Até os que compõem rosas em espinhos.

Palavras. Nunca prontas. Sempre, girando, girando, girando.
Palavras.
Alguém ao fundo me chama, interrompendo outra vez a poesia
que me custa decifrar em minuciosas palavras.

Digo que já vou. São só palavras. Ninguém tem tempo para palavras.
Menos ainda para ideias e ideais. Danem-se.

("Vamos remar contra a corrente, desafinar o coro dos contentes")

3 de fevereiro de 2016

Poesia para a Rosa

Admiro, como um aprendiz fanático, tua simplicidade
feminina, bruta como pedra, delicada como rosa,
(e rosa também é teu sobrenome), digo a verdade
que como tu nenhuma há, ninguém em face
desse medíocre planetinha.

Nem o céu no seu mais belo azul, sabe me dizer
o que se passa naquele sorriso. Mas eu sei o quanto de tempo
perdi dos meus dias me privando dos teus passos
para seguir passos certos demais, em linha reta.

Admiro, e não parece se importar com luxos,
prazeres em excesso ou loucuras humanas.
Teu charme é perfeito estado de ironia com sabedoria,
sabe que nenhum segundo é em vão se se vive
pelo que se quer viver.

Admiro, como um maluco, tua verdade
a ponto de crer, algumas vezes, que seja única.

Pena o hoje me reservar a distância e a saudade
do ontem. Cara amiga, te admiro, com toda alma
e impura alma.