9 de fevereiro de 2016

Fogo na lenha

Não me venha com a chuva quando lhe pedir o Sol.
Não me venha com a poesia se a noite desabar sobre os ombros.
Não me venha com conversas e recados, gritos ou sussurros,
palavras de convencimento, somente para quebrar o gelo,
somente mentiras que não quero escutar e que não quer contar,
não, não me venha.

Não me venha com o café adocicado, doce veneno da língua.
Não me venha com sorrisos e detalhes, perguntando se estou bem.
Não me venha com artifícios felinos e femininos, armadilha
para pegar ratos que anseiam por um queijo. Não, não me venha.

Não me venha com o olhar leve, com a alma em paz,
com o brilho estrelado na palma da tu mão de chumbo,
não me venha com encantos, cantos de sereia traiçoeira,
não me venha com elogios, presentes ou surpresas.

Não, não me venha, não apareça se for somente por cortesia.
Prefiro ter a ideia presa do que a cabeça vazia,
essa eterna oficina do Diabo.
E eu, tonto, desprezo a santa ceia
digo para que não venha
por o fogo que falta para a lenha.

Não me venha se for para ir, se for só um momento.
Não me venha se a rima estiver completa
se a poesia já estiver escrita ou se as palavras estiverem sobre a mesa.
Venha se quiser, e se quiser, surpresa:
como diriam meus avós, beleza não põe mesa.
Mas beleza se põe sobre a mesa, para comer.

Mas por favor, não me venha
se não for passar a madrugada.

Então, não me venha
brincar de conto de fada
pois de prometer para o depois eu só prometo
o nada. 

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